segunda-feira, maio 21, 2007

Deusa perdida


Heitor Gomes

Ao entrar naquela boate,
fiquei louco de paixão.
Ao vê-la dançando naquele palco,
rebrilhando na escuridão.

Não consegui pensar em nada,
mergulhado naquele universo,
deslumbrando tamanha beleza,
torneada pelo Supremo Arquiteto.

Depois do show me aproximei e
convidei-a para dançar.
Tomamos o néctar de Eros e
num revolto lençóis,
nos entregamos sem parar.

Era linda como uma deusa,
rebelde como a pantera.
Seu cheiro era a própria libido
e eu delirava dentro dela.

Quando subia no palco e o
público ensurdecido aplaudia,
seu corpo levava ao delírio a platéia,
que não sabia o que fazia.

Meu ciúme me corroia,
o medo me enchia a alma.
Dona de uma beleza radiante,
a angústia me tirava à calma.

Ela era minha vida,
razão do meu viver.
Era o ar dos meus pulmões,
minha única razão de ser.

Nós éramos dois boêmios,
felizes e apaixonados.
Amávamos durante o dia, e a noite,
ela subia no palco iluminado.

Muitos fãs e admiradores,
punham flores a seus pés.
Idílio de muitos homens;
igual a ela, ninguém é.

Uma noite antes de entrar na boate,
ela foi comprar cigarros,
fiquei esperando por ela,
sozinho dentro do carro.

Passaram-se alguns minutos
e ela não voltou,
comecei a ficar desesperado e
o meu coração chorou.

Por que demoras tanto?
Será que foi embora com outro,
ou o problema é o butequeiro,
que recebeu e não tinha troco.

Sem conseguir nada entender,
recebi uma carta de um senhor,
que me dizia cruelmente:
- Me perdoe, mas fui embora com um outro amor.

Amei-te perdidamente,
você foi a minha luz, o meu calor.
Mas agora estou com outro,
tudo entre nós terminou.

Você foi a minha vida,
meu mestre e professor.
Ensinou-me o que é amar,
com devoção afeto e ardor.

Quando dizia que te amava,
estava sendo muito sincera.
Radiava em meu coração,
o desabrochar da primavera.

Fui fiel, apaixonada e dedicada,
meu corpo era somente seu;
e mesmo no brilho dos palcos,
sabias que também eras meu.

Nunca pensei em outro homem,
mesmo rodeada deles.
Era sua somente sua,
nem ligava para eles.

Como nós nos conhecemos,
também conheci outro alguém.
Ele olhou e me seduziu,
e eu gostei dele também.

Chamou-me para ir embora,
num lugar muito distante.
Eu aceitei rapidamente
e hoje somos amantes.

Perdoe-me a traição,
eu sei que te enganei.
Mas estava decidida,
a quebrar o que a ti jurei.

Não tive coragem de te encarar,
falar da minha decisão.
Sei que estou errada,
você tem toda razão.

Mas agora termino aqui,
esta carta de desamor.
Espero que sejas feliz
e encontre um novo amor.

Ao ler aquele relato,
foi difícil de acreditar;
que a beleza mais Divina,
outro homem estava a amar.

Aquele bilhete frio, com palavras tão cruéis;
porém, sinceras e verdadeiras.
Bastava-me apenas ter que aceitar, que eu não tinha mais,
a minha linda princesa.

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