quarta-feira, março 07, 2007

Cabloca (Poema Sertanejo)


Heitor Gomes

Vou contar uma história,
com um final triste de doer.
Aconteceu comigo e Rosinha,
em nossa casinha de sapé.

Rosinha era uma cabocla,
linda que fazia gosto.
Quando ficava longe dela,
me dava um grande desgosto.

Fomos criados juntos,
trabalhando na mesma fazenda.
Era uma morena faceira,
a mais preciosa prenda.

Quando a pedi em casamento,
ela disse que aceitaria.
Também queria viver comigo,
para termos a nossa cria.

Eu era muito feliz.
Ninguém podia imaginar.
Casado com Rosinha,
o mundo podia se acabar.

Peguei minhas economias,
que juntei com sacrifício.
Comprei uma linda casinha,
longe de todo reboliço.

Nós vivíamos muito felizes,
como dois apaixonados.
Fazia todos os gostos dela,
até os mais desenfreados.

Mas um dia o destino,
se fez cruel em minha vida.
Quando cheguei da roça,
não encontrei minha querida.

Bem por cima da mesa,
avistei um papel escrito
e sem entender de nada,
comecei a ler o que estava dito.

Não conseguia acreditar,
naquelas ferinas palavras.
Que ela tinha se enjoado de mim
e por outro estava apaixonada.

Por isso partiu para sempre,
para viver ao lado de outro.
E que eu ficasse quietinho,
que passaria esse momento
doloroso.

Ao terminar a tal leitura,
não consegui pensar em mais nada.
Selei rapidamente o cavalo
e fui atrás daquela ingrata.

Estava cego de rancor,
sem poder imaginar,
minha cabocla Rosinha,
de um outro se enamorar.

Caminhei muitas léguas,
milhas e milhas sem parar.
Descansei num lugarejo e
dela comecei a perguntar.

Me disseram que a viram,
ao lado de um homem caboclo.
Como estavam de passagem,
por isso ficaram tão pouco.

Minha busca era intensa,
parava só o necessário.
Alimentava o meu cavalo
e seguia o itinerário.

Depois de muito cavalgar,
parei numa cidade distante.
Entrei numa pequena hospedaria
e levei um susto naquele instante...

Vi Rosinha sentada na mesa,
ao lado do seu novo amor.
Quando me viu ficou nervosa,
começou a gritar com furor.

Por favor, não o machuque,
eu sou a única culpada.
Deixe que ele vá embora,
só eu mereço ser castigada.

O homem que estava com ela,
de repente saiu correndo.
Rosinha se atirou em meus pés
e desesperada foi dizendo.

Me perdoe a traição,
sei que não devia ter feito.
Mas me apaixonei por outro homem,
sabendo que não era direito.

A culpa é toda minha,
aceito o meu castigo.
Faça comigo o que quiser,
não tenho medo do perigo.

Estou amando outra pessoa,
me apaixonei perdidamente.
Você não é mais o meu amor,
mesmo sendo honrado e decente.

Ouvindo tudo aquilo,
não pude me controlar.
O sangue ferveu nas veias,
como louco comecei a bradar.

Cabocla pérfida e sem coração,
por que fez isso comigo?
Destruiu o meu futuro
e tudo que estava prometido.

A nossa história de amor.
Em uma cabana de sapé.
Mas você destruiu tudo,
inclusive a minha fé.

Mas te vendo desse jeito,
sei que estava errado.
Amei loucamente uma mulher,
fazendo dela, o meu reino
encantado.

Minha vontade é de te matar,
dar um fim em sua vida.
Cobra infame e venenosa,
culpada da minha história sofrida.

Mas nada disso vou fazer,
vou deixá-la ir embora.
Vou seguir outro caminho,
mudar o final da minha história.

Você é uma traidora,
por isso merecia morrer.
Mas vou deixá-la para sempre,
o destino cuidará de você.

Vou-me embora para casa,
no aconchego da minha cabana.
Sei que ainda posso ser feliz,
com alguém, que de verdade me ama.

Nunca mais quero te ver,
Terás para sempre meu desprezo.
Agora vejo que sem você,
tirei da minha vida um grande peso.

Levante-se e vá embora,
atrás do seu novo amor.
Aqui começa o seu calvário,
de sofrimento e de dor.

Então virei-lhe as costas
e montei no meu cavalo.
Retornando para casa,
abandonando o meu passado.

Sabia que seria difícil.
O futuro seria pungente.
Mas queria ser feliz,
com uma mulher séria e decente.

Hoje os anos se passaram,
Já estou velho e doente.
Nunca encontrei outro amor,
não me casei novamente.

Nunca esqueci a cabocla,
morena linda de se ver.
Sem ela minha vida é triste.
Nunca consegui te esquecer.

Não tive mais notícias dela,
nem sei o seu paradeiro.
Que saudade da cabocla,
ainda sinto seu cheiro.

Jamais serei feliz.
Tenho consciência disso.
Mas quem sabe depois da morte,
ela cumpra o nosso compromisso.

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