sexta-feira, maio 04, 2007

Rosinha (Poema Sertanejo)


Heitor Gomes

A história que agora vou contar,
aconteceu comigo e com meus pais,
num sitio que nós tínhamos,
bem no interior de Goiás.

Eu era filho único, já tinha 18 anos.
Estudava no colégio da cidade,
para aprender ler e escrever,
mas não queria cursar faculdade.

Meu pai sempre me prometia,
que quando me tornasse adulto,
herdaria toda aquela terra,
e cuidaria daquilo tudo.

Procurava sempre agradá-lo,
sendo bom filho e trabalhador.
Fazia sempre a sua vontade e
esforçava-me com muito amor.

Divertimento era pouco.
Só nos finais de semana.
Ia no bailão da cidade,
e dançava com alguma dama.

Quando tinha algum rodeio,
participava das montarias.
Gostava de montar em cavalos bravos,
embora quase sempre caia.

Meu pai ficava preocupado,
com essa minha diversão.
E estava sempre me dizendo,
que cavalo chucro, não é brinquedo não.

Mas eu respondia brincando,
que não ficasse preocupado.
Pois além de ser um bom peão,
por Nossa Senhora, jamais seria desamparado.

Lembrava do prêmio que ganhei,
quando montei o cavalo negrão.
Uma linda moto zero,
o máximo da premiação.

E assim era feliz,
sem grande preocupação.
Trabalhava a semana inteira
e só domingo tinha alguma diversão.

Um dia conheci Rosinha,
que mudou ao lado do nosso sítio.
Ela também era filha única,
de dona Maria e Seu Benedito.

Eles vieram da cidade,
e compraram o sítio ao lado.
Quando a vi pela primeira vez,
fiquei logo apaixonado.

Todas as noites depois do jantar,
tocava viola pra ela.
Dizia que estava apaixonado
e o quanto era bela.

Seu pai Seu Benedito,
simpatizava muito comigo.
Demonstrava que fazia gosto,
de ter me como amigo.

Rosinha correspondia,
a todos os meus sentimentos.
E para oficializar o noivado,
aguardava o melhor momento.

Então criei coragem e falei com o seu pai,
o que sentia por sua filha,
e se não houvesse empecilho,
o mais breve me casaria.

Ele disse que concordava
e ficou muito contente.
Pois me achava um homem digno,
trabalhador e decente.

Comuniquei minha família,
essa minha decisão,
se eles concordavam,
ou tinham alguma objeção.

Meu pai ficou feliz,
deu todo consentimento.
Mas que nos casássemos na igreja
e eu respeitasse os mandamentos.

De honrar e respeitar Rosinha,
na alegria e na dor.
E por maior que fossem as dificuldades,
nada afetaria nosso amor.

Prometi então ser fiel,
ao grande ensinamento.
De me unir com Rosinha,
no sagrado casamento.

Rosinha e eu estávamos felizes,
com o nosso futuro.
Pois o que sentíamos era mútuo,
um amor sincero e puro.

Tínhamos os mesmos gostos.
Quase a mesma idade.
E mesmo depois de casados,
teríamos ainda muita mocidade.

Poderíamos criar nossos filhos,
com alegria e muito amor.
Fazer com que estudassem
e tivessem um futuro promissor.

Marcamos o casamento,
numa data muito abençoada.
Seria o dia do aniversário,
da Virgem Santa Sagrada.

A igreja estava linda,
irradiava muita luz.
No altar estava a virgem,
segurando o menino Jesus.

Eu aguardava ansioso,
o momento de Rosinha chegar.
Quando a vi entrando na igreja,
meu coração queria do peito saltar.

Ela estava muito linda,
vestida toda de branco.
Parecia até uma santa,
devido o tamanho do seu encanto.

Ajoelhamo-nos no altar,
o padre iniciou a cerimônia.
Apregoou um lindo sermão,
sem nenhuma parcimônia.

Disse que em nossas dificuldades,
tristezas e muita dor,
rezássemos para que Nossa Senhora,
nos protegesse com seu amor.

Por que ela é a Mãe de Deus
e de todos os oprimidos.
Está sempre intercedendo junto ao Pai,
por todos os seus filhos queridos.

As palavras do padre,
eram lindas e eloqüentes,
inebriavam toda platéia,
de forma muito comovente.

Terminada a cerimônia,
retornamos para casa.
Estava tudo preparado,
para uma festança danada.

O festejo foi animado,
os convidados na maior alegria.
Meu sogro e meu pai organizaram tudo,
mataram até uma novilha.

A festança foi a noite inteira,
só parou ao sol raiar.
Os convidados começaram ir embora,
quando o galo parou de cantar.

Rosinha mudou para casa,
veio morar comigo.
Tínhamos uma vida tranqüila,
rodeada com muitos amigos.

Após três meses de casados,
Rosinha emocionada me falou:
-Amor acho que estou grávida,
pois minha regra parou.

Ouvindo tudo aquilo,
chorei de felicidade.
Abracei e beijei-a ,
com toda intensidade.

Um filho era muita alegria,
nossa e de nossos pais.
Pois um neto para eles,
era felicidade demais.

Enquanto o tempo passava,
Rosinha fazia o enxoval.
Todos os meses íamos a cidade,
fazer o exame pré-natal.

Nossa felicidade era imensa,
que ninguém imaginava.
Com a vinda de um herdeiro,
tanta coisa por si mudava.

Passado mais de sete meses,
Rosinha teve um mal estar.
Corri para levá-la ao médico,
para ele a consultar.

As dores começaram a aumentar,
tomaram o corpo inteiro.
Ela chorava descontrolada,
num grande desespero.

Coloquei-a na caminhonete
e rumei para o hospital.
Era o único da cidade,
muito distante da capital.

Chegando na maternidade,
Rosinha foi logo atendida.
Pois o médico não sabia,
se corria risco de perde a vida.

Aguardei ao lado no salão,
nervoso e muito angustiado.
Pois tudo aquilo na minha vida,
deixava-me perdido e desorientado.

Ninguém me falava ao certo,
o que estava se passando.
O que a Rosinha tinha
e por que sofria tanto.

De repente a porta se abriu,
o médico entrou dirigindo-se a mim,
dizendo que fez o possível,
mas Rosinha tinha chegado ao fim.

Felizmente a criança se salvou.
Apesar da triste sina,
nascera com muita saúde,
era uma linda menina.

Nesse momento de desespero,
não sabia o que fazer.
Se ia junto da mulher querida,
ou minha filha que acabara de nascer.

Procurei manter a calma
e lembrei do nosso casamento.
As palavras ditas pelo padre,
na hora do sacramento.

Que jamais esquecêssemos de Deus,
nem da virgem Maria.
Por maior o sofrimento,
ela sempre nos protegeria.

Fui então a igreja rezar
e pedir a Nossa Senhora,
para que nos protegesse,
naquela triste e sofrida hora.

Ajoelhei-me então no altar,
diante da santa querida.
Comecei a pedir por Rosinha,
que já se encontrava sem vida.

- Ó Virgem Santa Sagrada,
intercedei junto ao Criador,
que nos devolva a minha Rosinha,
para viver comigo,
e também com nossa filhinha.

Terminada a oração,
ouvi uns barulhos estranhos.
Era meu pai se aproximando,
todo afoito e gritando.

Meu filho meu filho querido,
um milagre aconteceu.
Rosinha está viva,
ela não morreu.

Despertou do sono profundo,
levantou e começou a falar.
Perguntou de você e da filhinha,
e porque não estavam lá.

Ouvindo o que meu pai dizia,
não conseguia acreditar.
Era tanta felicidade,
que comecei a chorar.

Corri ao encontro dela,
ansioso e emocionado.
Rosinha estava viva,
para viver do nosso lado.

Depois de um abraço profundo,
falei emocionado de nossa filha.
Que era uma saudável menina,
para fazer parte de nossa vida.

E se não fosse também,
o milagre de Nossa Senhora,
ela estaria vivendo,
em outra dimensão agora.

Rosinha emocionada me disse,
que durante o sono profundo,
sentiu fazendo uma viagem,
longa para um outro mundo.

Era um lugar maravilhoso,
parecia o jardim do paraíso.
Os habitantes viviam felizes,
eram todos muito amigos.

E quando ia se aproximando,
para entrar naquele lugar.
Viu uma imagem de mulher,
chamando-a para conversar.

Então ficou parada,
e a senhora começou a falar:
-Rosinha minha filha, pegue o rumo de casa,
que agora você vai voltar.

Ouvi as orações de seu marido
e tive permissão de Deus,
para que pudesse retornar
e continuar vivendo junto com os seus.

Vá e sejas muito feliz,
com seu marido e sua filha.
Estarei sempre olhando por vocês,
eu sou a Virgem Maria.

Ouvindo tudo aquilo,
que Rosinha me contou.
Fiquei muito agradecido a Nossa Senhora,
pelo milagre que ela realizou.

Mandei construir no sítio,
Uma grande capela para Virgem Maria.
Que durante o ano inteiro,
é visitado por grandes romarias.

O local ficou conhecido,
até no exterior.
Por causa da moça que morreu
e a Nossa Senhora ressuscitou.

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