segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Tenho problemas



Heitor Gomes

Estou sem inspiração,
não consigo pensar em nada.
Por mais que eu me esforce,
meu pensamento não divaga.

Queria muito poder escrever,
um poema da melhor qualidade,
mas meu coração está recluso,
não sinto nenhuma saudade.

Não tenho nenhum amigo,
muito menos teogonia.
Vivo todo enclausurado,
numa triste enxovía.

Num mundo solitário,
Totalmente túrbido...
Repousando num catre,
em que os pesadelos são túmidos

Quero me lembrar de um afeto,
ninguém me vem à memória.
Não sei que fins levaram,
foram todos embora

Comeram todo filé mignon,
deixaram o farelo de pão.
Joguei tudo na lata do lixo,
junto com a minha ilusão.

As promessas volatilizaram.
Os sonhos viraram fumaça,
só ficou a desilusão e uma
tristeza que não passa.

Não ficou nenhum aliado,
para fazer parte da história.
Foram comemorar com os inimigos,
a sua pirotécnica vitória.

Trabalhei ensandecido,
mutilando todo o ócio.
mas os deuses não queriam,
que eu subisse ao pódio.

Combati o bom combate.
Duelei noite e dia.
como não estava escrito nas estrelas,
o sonho virou fantasia.

Os vencedores comemoraram,
soltaram rojões coloridos.
Eu ficara mutilado,
com os sonhos suprimidos.

Meu interior estava em óbito
Embora medrava por fora.
Era o que mais me angustiava,
naquela soturna hora.

Exorava meu desencarne
clemência ao Criador,
para que tivesse fim,
a minha pungente dor.

Os rogos foram estéreis.
O escopo não cristalizava.
A alma toda chagada e o
desencarne não chegava.

As noites eram insones,
pesadelos de muita agonia.
Protagonizava uma história de horror,
via clarear o dia.

Hoje tanto tempo passou,
Sou velho e desiludido.
Um peregrino apostata,
um homem despercebido.

Escrevo somente pra mim,
não quero agradar ninguém.
Olho os transeuntes e vejo,
que todos sofrem também

O tempo deixou cicatrizes
e também grandes dilemas.
Não sou um homem apaixonado,
escrevo porque tenho problemas.

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