domingo, fevereiro 11, 2007

Cárcere


Heitor Gomes

Nesta solidão escura,
de uma cela fria,
penso em minha vida
e como ela foi vivida.

Nasci numa favela,
sem nenhuma integração.
Vivia abandonado,
sem amor sem afeição.

Minha mãe era uma puta,
drogada e traficante.
De dia vendia drogas
a noite saia com seus amantes

Eu não era mais sozinho.
Tinha mais dois irmãos,
chorando de muita fome,
porque faltava o pão.

Sendo o irmão mais velho,
tinha que tomar providência
Minha mãe vivia na orgia,
era a maior indecência.

comecei a vender drogas,
para ter algum dinheiro.
Poder acolher meus irmãos
e lhe dar um paradeiro.

A miséria era tamanha,
não tínhamos nenhum
consolo.
Só restava a sobrevivência,
era a lei daquele morro.

Alem de vender drogas,
cometia alguns delitos.
Tinha que sobreviver,
sem choro e nem grito.

Nunca tive na escola,
não sei ler nem escrever.
Mas sei usar uma pistola,
pra roubar e escarnecer.

A sociedade me excluiu,
não querem saber de mim.
Nunca me deram uma chance,
por isso sou assim

Só amo meus irmãos e ninguém
mais nesta vida.
Por eles, faço tudo, até
mato pra conseguir comida.

Um dia enquadrei um bacana.
Pus a maquina na sua cabeça.
Disse: me de toda sua grana
e da no pé, desapareça.

Mas ele não me obedeceu
e tentou se defender.
Então puxei o gatilho,
ele veio a perecer.

Meus irmãos estão na febem.
Eu totalmente enquadrado.
Minha mãe esta com aids
e o futuro predestinado.

Agora vivo nesta cela,
rodeada de “companheiros”,
que tentaram como eu,
um futuro alvissareiro.

Sou apenas mais um,
no meio de tanto sofrimento.
Se não morrer nesta prisão,
morrerei num singelo fuzilamento.

Não consigo crer em Deus.
Por isso não vou rezar.
Se Deus gostasse de mim,
poderia me ajudar.

Sei que não sou bonzinho,
nem quero dar uma de santo.
Fiz tudo que era errado,
só para ter o meu canto

Meu canto consegui,
é esta cela gelada
Sozinho sem família
e a alma dilacerada.

Quero dizer a você,
que não faça o que eu fiz.
Procure ser honesto,
trabalhador e feliz.

.
.O crime não compensa,
nunca vale a pena.
Ninguém imagina o sofrimento,
de ter que viver,
nesta cela pequena.

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